Por Silvana Marpoara, colaboradora da coluna Cine Gastrô
Baba de moça, acarajé, caviar… Essas são algumas das citações, por vezes infames e provocativas, do livro de Jorge Amado que acaba de ganhar mais uma versão cinematográfica: DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS. O novo filme, absolutamente fiel ao livro de 1966, é estrelado pelos atores Juliana Paes, Leandro Hassum e Marcelo Farias nessa versão que é um verdadeiro deleite para quem gosta da relação cinema x comida.
Afinal, desde sempre a comida esteve presente na arte de reproduzir imagens na tela grande – seja na temática de algumas produções ou nas guloseimas que costumamos devorar a cada sessão, como a velha e boa pipoca. A partir de agora vamos aproveitar esse espaço “verbo comer” para fazer alguns comentários sobre quitutes e a sétima arte: duas das coisas que eu, Silvana Marpoara –jornalista, educadora, produtora cultural e aprendiz de cozinheira nas horas vagas, mais gosto nessa vida !
Para começar, DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, um ícone da literatura brasileira, que traz no texto, e também nas imagens, uma série de aromas e sabores – tão típicos da obra do famoso escritor baiano. Pois, os personagens se apresentam tal qual os temperos que lhes dão mais fogo pela vida ou a falta desse mesmo tempero em especial. O que todos nós sabemos é que Dona Flor é uma bela mulher, muito prendada na arte culinária, e que se submete a uma relação abusiva por conta de um homem também fogoso, o safado Vadinho. Mas, com a morte do primeiro marido eis que aparece um homem bom, Teodoro, cheio de boas intenções, um excesso de respeito e nenhuma preocupação com o prazer dessa mulher. Como lidar com essas referências? Será que somos capazes de comer pimenta mesmo sabendo que pode nos fazer mal? Ou será que nos acostumamos a falta de sal do dia a dia? O drama de Dona Flor nos dá margens a imaginação e uma série de analogias sobre sentimentos que a comida é capaz de despertar.
Cada lembrança de Dona Flor remete a um sabor… O mexido suave e constante das gemas agregadas ao açúcar, no fogo alto em panela de cobre, faz surgir o doce de nome sugestivo como a baba de moça jovem e cheia de vigor. Já o impetuoso Vadinho cita, por várias vezes, a importância da pimenta para esquentar o quitute produzido com a massa de feijão fradinho, levemente batido e misturado a um monte de temperos, e banhado calorosamente no azeite de cor alaranjada e aroma intenso do dendê. Mas é uma amiga de Dona Flor a responsável por um dos momentos mais curiosos do texto (e do filme) no que se refere a comida. Segundo ela… Vadinho afirmava que o sabor do caviar, as apreciadas ovas de peixe, muito se assemelhava ao sabor do sexo feminino e numa determinada cena ela pergunta ao desajeitado Teodoro se ele gosta de caviar, e é claro que, para o desanimo de Dona Flor, ele não tem a mesma referência de sabor.
A propósito: comida e sexo são os dois principais assuntos dessa trama e isso não é à toa. O comer antropofágico ganha nuances mais que sensoriais através dos filmes e nessa produção acaba se transformando num personagem paralelo que liga essa mulher – e seus dois homens – com suas devidas fomes de vida e de desejo por ela. Se por mais nada valesse assistir ao filme certamente valeria pelas cenas tórridas na beira do fogão e em meio às panelas. O certo é que, após assistir DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS, é difícil não pensar sobre alguns aspectos da vida a dois, na vontade de saborear os pratos citados, de vivenciar algumas das cenas e de ser feliz seja lá do jeito que for… cada um com o seu sabor !!! Boa sessão e bom appetit … ehehehehehehhhh…
Ficha Técnica
Ano: 2017
Duração: 1h 35min
Classificação: 16 anos
Direção: Pedro Vasconcelos
Elenco: Juliana Paes, Leandro Hassum, Marcelo Faria e outros.
Gênero: Comédia
Produção: Marcelo Faria, Marcello Ludwig Maia
Distribuição: Downtown Filmes
Nacionalidade: Brasil