Por Silvana Marpoara, uma cinéfila pouco foliã mas que adora uma gelada…
Ahhhh… esse Brasil, tão citado em verso e prosa, cheio de sotaques, ritmos, aromas, cores, sabores, imagens, alegria e… uma combinação perfeita: Carnaval e cerveja! E, se ainda acrescentarmos o cinema, melhor ainda, ehehehehehe… Sim, não tem temporada mais propicia para se falar das famosas “brejas” do que a maior festa popular brasileira – o Carnaval – que, curiosamente, tem poucos registros na sétima arte. Desde já aviso que esse texto será longo para tentar dar conta de tantos assuntos. Eu sugiro que você abra uma cerveja para ler e degustar cada palavra ou sabor aqui mencionado ehehehehehhh…
As primeiras imagens dessa grande festa surgem por volta de 1922, quando Gentil Roiz e Edson Chagas filmaram o Carnaval recifense, uma espécie de documentário sobre a sociedade local embalada pelas marchinhas e os frevos. Em 1936, é que podemos dizer que foi produzido, verdadeiramente, um filme com esse tema: “Alô, Alô Carnaval”, com Carmen Miranda – um dos mais fortes ícones da imagem brasileira que o cinema sempre ajudou a reforçar. Anos depois, foi a vez de Oscarito, um ator-palhaço, estrelar o filme Carnaval Atlântida, um sucesso na época entre o público. Então, os interesses das produções nacionais pareciam mudar de rumo…
O Carnaval acontece em pleno verão brasileiro, sol escaldante, dias em que tudo parece ser permitido, histórias de amor – ou de paixões repentinas, e um consumo absurdo desse liquido fermentado repleto de historias. A cerveja teria surgido há mais de seis mil anos, na mesopotâmia, e é uma mistura de cevada, levedura, lúpulo, outros grãos de cereais que – agregados à água – foi criada acidentalmente. Mas, também tem outras versões para a sua historia – o que certamente renderia um bom filme. Dizem que Julio Cesar era um apreciador dessa bebida preciosa e que acabou disseminando o seu consumo pelo resto do mundo e ainda que, na idade média, eram as mulheres as grandes responsáveis por escrever e criar receitas sobre essa combinação de ingredientes. Isso sem falar da conhecida historia dos frades abades que teriam produzido uma apreciada bebida alcoólica nos esconderijos dos mosteiros.
Só lá pelos Anos 70 é que o Carnaval volta às telas grandes em um dos filmes da série 007 – Contra o Foguete da Morte, com cenas filmadas no Brasil, e que usou imagens do Carnaval carioca. E até mesmo o clássico da mitologia grega Orfeu ganhou versão adaptada ao Carnaval brasileiro em 1999 (inspirada na peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes e com trilha sonora de Tom Jobim) em que Orfeu (Toni Garrido) um compositor de escola de samba vive uma paixão proibida pela bela Euridice. O universo das escolas de samba também mereceram outras produções como: Trinta, o filme sobre o Carnavalesco Joãozinho Trinta (2014); Damas do Samba, sobre as cantoras do samba carioca como Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, etc… (2013); O Samba, um relato sobre a vida e a obra de Martinho da Vila (2015) além do filme de animação RIO, a historia da arara Blue ambientada na cidade maravilhosa (2011).
Mas, e a cerveja ??? Ou Breja, um apelido carinhoso, adotado pelos amantes dessa bebida que a cada dia ganha mais adeptos e conhecedores. Assim como o vinho, uísque e a cachaça… A cerveja foi elevada à categoria de especialistas no assunto que eu resumidamente vou classificá-las como: Lager (baixa fermentação); Pilsen (clara e de paladar mais leve); Bock (escura e de alto teor alcólico) e Ale (alta fermentação e normalmente feitas a base de trigo). Isso sem falar das recentes cervejas artesanais, mais fortes e encorpadas, por vezes misturada a frutas e temperos diversos, que também agradam a homens e mulheres das mais variadas faixas etárias.
No Recife, são diversas as marcas produzidas ou as lojas que destinam bons espaços aos rótulos, dos mais populares até os importados. Estima-se que mais de 200 marcas de cervejas estejam disponíveis na cidade, e a idéia é sempre conhecer uma marca nova e fazer a árdua tarefa de comentar sobre cada uma delas e/ou tentar harmonizar as cervejas a pratos salgados e até sobremesas – mas esse já é um outro assunto, quem sabe um dia !!!
Curiosamente a bebida mais consumida no país – seja no Carnaval ou não – aparece no cinema apenas como uma coadjuvante chique, sem grandes explicações sobre sua origem ou uso mais adequado. Em Tropa de Elite a famosa cervejaria (Brahma) patrocinou o filme e, como contrapartida, exigiu aparecer – descaradamente – durante algumas cenas. Quantas vezes não identificamos a marca da cerveja que tal personagem bebe: como o atual 007, Daniel Craig, que trocou seu famoso drinque Dry Martini pela investida promocional da Heineken em um dos seus recentes filmes? Como esquecer Bart Simpson tomando sua cerveja Duffs depois de um dia duro de trabalho? Isso sem contar nas inúmeras participações de uma deliciosa taça, copo, caneca absurdamente gelada. Que, discretamente, aparecem em outros filmes, séries, novelas ou qualquer produção audiovisual em que um personagem deguste essa iguaria: Pulp Fiction, Clube da Luta, Se beber não case, Django Livre, Um sonho de liberdade e ainda a cena linda de ET roubando a cerveja da geladeira ou a cerveja amanteigada de Harry Potter.
Em Pernambuco, alguns filmes também usam desse artifício: Clara/Sonia Braga toma cerveja, numa saída com as amigas, no filme Aquárius (2016); Em Baile Perfumado (1996) o comerciante libanês também se delicia com a cerveja, à beira do Rio São Francisco, e cercado pelo bando de Lampião. Mas, por aqui, temos uma cena construída no imaginário coletivo – graças ao Chico Science – e a certeza de que “uma cerveja antes do almoço é muito bom para ficar pensando o melhor!”. O certo é que… Seja para acompanhar o samba, o axé, o boi ou o frevo… ou um bom filme… A cerveja é a campeã de preferência entre os foliões – e os que aproveitam essa época para fugir da folia também, claro! Essa mistura de Carnaval, cerveja e cinema resumem bem a alquimia da felicidade do povo brasileiro ehehehehehe… Desejo muitos brindes, muita diversão e bons filmes a todos nós !!! E mais uma cerveja para mim que eu mereço, eheheheheheh…