*Por Monica Faria
A viticultura em Kemet, antigo nome do território que hoje conhecemos como Egito, tem uma história rica que remonta há pelo menos 5.000 anos, durante a época pré-dinástica. Os keméticos cultivavam uvas em larga escala ao longo das margens férteis do rio Hapy, hoje conhecido como Nilo, que fornecia a água necessária para irrigação. Essas uvas, tanto as vermelhas quanto as brancas, eram cultivadas com cuidado e destreza, demonstrando uma sofisticada compreensão da agricultura e do clima da região.
As variedades de uvas cultivadas eram conhecidas não apenas por sua qualidade para a produção de vinho, mas também por serem utilizadas na criação de um perfume aromático. Os keméticos desenvolveram técnicas avançadas para o cultivo de uvas, incluindo a poda das videiras para controlar o tamanho das frutas e melhorar a qualidade do vinho.
Além disso, é fundamental destacar a influência africana na origem e disseminação do vinho. Acredita-se que a região hoje conhecida como Egito tenha desempenhado um papel significativo na história do vinho, influenciando seu cultivo e produção em outras partes do mundo. A ancestralidade africana do vinho é uma parte essencial de sua história global, que muitas vezes é negligenciada.
O vinho era uma bebida altamente valorizada na cultura kemética, tendo tanto significado religioso quanto social. Considerado uma dádiva dos deuses, os keméticos atribuíam à deusa Hathor, protetora das mulheres e da dança, a responsabilidade pela produção do vinho. Além de seu uso em cerimônias religiosas e ocasiões sociais, o vinho também era utilizado para fins medicinais, devido às suas propriedades curativas.
A produção de vinho em Kemet era altamente organizada e sofisticada, com diferentes tipos de vinhos servindo a propósitos específicos. Por exemplo, o vinho vermelho, mais robusto, era reservado para cerimônias religiosas, enquanto o vinho branco, mais suave, era apreciado em encontros sociais.
A deusa do vinho, Renenutet, era venerada pelos agricultores como protetora dos vinhedos e da fertilidade das colheitas. Ofertas eram feitas a ela para garantir uma boa safra de uvas e uma produção abundante de vinho.
Além de seu valor cultural e religioso, a viticultura desempenhou um papel fundamental na economia kemética, com a exportação de vinho sendo uma importante fonte de renda. Os vinhos keméticos eram altamente valorizados em todo o mundo antigo, demonstrando a importância e a sofisticação da indústria vinícola nessa civilização ancestral.
As informações descritas acima foram confirmadas em meados da 2ª década do século XX quando do encontro da tumba do Faraó Tutankamon, onde encontraram ânforas com resíduos de vinho tinto, branco e shade (talvez um laranja), todas com a data de fabricação, a safra da uva, bem como o profissional que hoje é chamado de enólogo, além de todo o processo descrito nos hieróglifos nas paredes da tumba, não só do referido faraó, mas também de outros de grande importância.
*Quem é Monica Faria
Historiadora, geógrafa, especialista em Relações Étnico-Raciais, palestrante e fundadora da Iroko, empresa que visa propagar informações que sejam, sobretudo, descolonizadoras. Conselheira da Revista Raça Brasil, integrante do Comitê Raça Alicerce Educacional. Para saber mais sobre o trabalho de Mônica, seus projetos e inspirações, acesse os perfis @monicafaria68/ e @irokoeducacional no Instagram.
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